(...) – Minha experiência foi a de todas as mulheres doidivanas que
trocam o pão bendito do trabalho pelo fel venenoso da ilusão. Nos tempos da
mocidade distante, como filha de um lar paupérrimo, vali-me do emprego em casa
de abastado comerciante, onde a vida me impôs imensa transformação. Esse
negociante tinha um filho, tão jovem quanto eu, e depois da intimidade
estabelecida entre nós, quando toda a reação de minha parte seria inútil,
esqueci criminosamente que Deus reserva o trabalho a todos os que amem a vida
sã, por mais faltosos que tenham sido, e entreguei-me a experiências dolorosas,
que não preciso comentar. Conheci, de perto, o prazer, o luxo, o conforto
material e, em seguida, o horror de mim mesma, a sífilis, o hospital, o
abandono de todos, as tremendas desilusões que culminaram na cegueira e na
morte do corpo. Errei, muito tempo, em terrível desespero, mas, um dia, tanto
roguei o amparo da Virgem de Nazaré, que mensageiros do bem me recolheram por
amor ao seu nome, trazendo-me a esta casa de abençoada consolação.
Comovidíssimo até às lágrimas, perguntei:
– E ele? Como se chama o homem que a fez tão infeliz?
Ouvia-a, então, pronunciar meu nome e de meus pais.
– E você o odeia? - indaguei, acabrunhado.
Ela sorriu tristemente e respondeu:
– No período do meu sofrimento anterior, amaldiçoava-lhe a lembrança, nutrindo por ele um ódio mortal; mas a irmã Nemésia modificou-me. Para odiá-lo, tenho de odiar a mim mesma. No meu caso, a culpa deve ser repartida. Não devo, pois, recriminar ninguém. (...)
Comovidíssimo até às lágrimas, perguntei:
– E ele? Como se chama o homem que a fez tão infeliz?
Ouvia-a, então, pronunciar meu nome e de meus pais.
– E você o odeia? - indaguei, acabrunhado.
Ela sorriu tristemente e respondeu:
– No período do meu sofrimento anterior, amaldiçoava-lhe a lembrança, nutrindo por ele um ódio mortal; mas a irmã Nemésia modificou-me. Para odiá-lo, tenho de odiar a mim mesma. No meu caso, a culpa deve ser repartida. Não devo, pois, recriminar ninguém. (...)
Livro: Nosso Lar, pelo espírito André
Luiz, de Francisco Candido Xavier.
Nenhum comentário:
Postar um comentário