(...) Meditei nos problemas dos
caminhos humanos, refletindo nas oportunidades perdidas. Na vida humana,
conseguia ajustar numerosas máscaras ao rosto, talhando-as conforme as
situações. Aliás, não poderia supor, noutro tempo, que me seriam pedidas contas
de episódios simples, que costumava considerar como fatos sem maior
significação. Conceituara, até ali, os erros humanos, segundo os preceitos da
criminologia. Todo acontecimento insignificante, estranho aos códigos, entraria
na relação de fenômenos naturais. Deparava-se-me, porém, agora, outro sistema
de verificação das faltas cometidas. Não me defrontavam tribunais de tortura,
nem me surpreendiam abismos infernais; contudo, benfeitores sorridentes
comentavam-me as fraquezas como quem cuida de uma criança desorientada, longe
das vistas paternas. Aquele interesse espontâneo, no entanto, feria-me a
vaidade de homem. Talvez que, visitado por figuras diabólicas a me torturarem,
de tridente nas mãos, encontrasse forças para tornar a derrota menos amarga.
Todavia, a bondade exuberante de Clarêncio, a inflexão de ternura do médico, a
calma fraternal do enfermeiro, penetravam-me fundo o espírito. Não me
dilacerava o desejo de reação; doía-me a vergonha. E chorei. Rosto entre as
mãos, qual menino contrariado e infeliz, pus-me a soluçar com a dor que me
parecia irremediável. Não havia como discordar. (...)
Foi então que o generoso
Clarêncio, sentando-se no leito, a meu lado, afagou-me paternalmente os cabelos
e falou comovido:
– Oh! meu filho, não te lastimes tanto. Busquei-te atendendo à intercessão dos que te amam, dos planos mais altos. Tuas lágrimas atingem seus corações. Não desejas ser grato, mantendo-te tranquilo no exame das próprias faltas? Na verdade, tua posição é a do suicida inconsciente; mas é necessário reconhecer que centenas de criaturas se ausentam diariamente da Terra, nas mesmas condições. Acalma-te, pois. Aproveita os tesouros do arrependimento, guarda a bênção do remorso, embora tardio, sem esquecer que a aflição não resolve problemas. Confia no Senhor e em nossa dedicação fraternal. Sossega a alma perturbada, porque muitos de nós outros já perambulamos igualmente nos teus caminhos. (...)
– Oh! meu filho, não te lastimes tanto. Busquei-te atendendo à intercessão dos que te amam, dos planos mais altos. Tuas lágrimas atingem seus corações. Não desejas ser grato, mantendo-te tranquilo no exame das próprias faltas? Na verdade, tua posição é a do suicida inconsciente; mas é necessário reconhecer que centenas de criaturas se ausentam diariamente da Terra, nas mesmas condições. Acalma-te, pois. Aproveita os tesouros do arrependimento, guarda a bênção do remorso, embora tardio, sem esquecer que a aflição não resolve problemas. Confia no Senhor e em nossa dedicação fraternal. Sossega a alma perturbada, porque muitos de nós outros já perambulamos igualmente nos teus caminhos. (...)
Livro:
Nosso Lar, pelo espírito André Luiz, de Francisco Candido Xavier.
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