sábado, 11 de fevereiro de 2012

Da Identificação dos Espíritos.

Do Livro dos Espíritos: Introdução

XII – Da Identificação dos Espíritos.

Um fato demonstrado pela observação e confirmado pêlos próprios Espíritos é que os Espíritos inferiores se apresentam muitas vezes com nomes conhecidos e respeitados. Quem pode, portanto, assegurar que os que dizem haver sido Sócrates (1), Júlio César (2), Carlos Magno, Fénelon, Napoleão (3), Washington etc. tenham realmente animado esses personagens? Essa dúvida existe entre alguns adeptos bastante fervorosos da Doutrina Espírita. Admitem a intervenção e a manifestação dos Espíritos, mas perguntam que controle podemos ter da sua identidade. Esse controle é de fato bastante difícil de realizar, mas, se não pode ser feito de maneira tão autêntica como por uma certidão de registro civil, pode sê-lo por presunção, através de certos indícios.

Quando se manifesta o Espírito de alguém que pessoalmente conhecemos, de um parente ou de um amigo, sobretudo se morreu há pouco tempo, acontece geralmente que sua linguagem corresponde com perfeição às características que conhecíamos. Isto já é um indício de identidade. Mas a dúvida já não será certamente possível quando esse Espírito fala de coisas particulares, lembra casos familiares que somente o interlocutor conhece. Um filho não se enganará, por certo, com a linguagem de seu pai ou de sua mãe, nem os pais com a linguagem do filho. Passam-se algumas vezes, nessas evocações íntimas, coisas impressionantes, capazes de convencer o mais incrédulo. O cético mais endurecido é muitas vezes aterrado com as revelações inesperadas que lhe são feitas.

Outra circunstância bastante característica favorece a identidade. Dissemos que a caligrafia do médium muda geralmente com o Espírito evocado, reproduzindo-se exatamente a mesma, de cada vez que o mesmo Espírito se manifesta. Constatou-se inúmeras vezes que, para pessoas mortas recentemente, a escrita revela semelhança flagrante com a que tinha em vida; têm-se visto assinaturas perfeitamente idênticas. Estamos longe, entretanto, de citar esse fato como uma regra, sobretudo como constante; mencionamo-lo como coisa digna de registro. Os Espíritos que atingiram certo grau de depuração são os únicos libertos de toda influência corporal; mas, quando estão completamente desmaterializados (esta é a expressão de que se servem), conservam a maior parte das idéias, dos pendores e até mesmo das manias que tinham na Terra e este é ainda um meio pelo qual podemos reconhecê-los. Mas chegamos ao reconhecimento, sobretudo, através de uma multidão de detalhes que somente uma observação atenta e contínua pode revelar. Vêem-se escritores discutirem suas próprias obras ou suas doutrinas, aprovando-lhes ou condenando-lhes certas partes; outros Espíritos lembrarem circunstâncias ignoradas ou pouco conhecidas de suas vidas ou suas mortes. Todas as coisas, enfim, que são pelo menos provas morais de identidade, as únicas que se podem invocar tratando- se de coisas abstraías.

Se, pois, a identidade do Espírito evocado pode ser, até certo ponto, estabelecida em alguns casos, não há razão para que ela não possa ser em outros. E se, para pessoas de morte mais remota, não temos os mesmos meios de controle, dispomos sempre daqueles que se referem à linguagem e ao caráter. Porque, seguramente, o espírito de um homem de bem nunca falará como o de um perverso ou imoral. Quanto aos Espíritos que se servem de nomes respeitáveis, logo se traem por sua linguagem e suas máximas. Aquele que se dissesse Fénelon, por exemplo, e ainda que acidentalmente ferisse o bom senso e a moral, mostraria nisso mesmo o seu embuste. Se, ao contrário, os pensamentos que exprimisse são sempre puros, sem contradições, constantemente à altura do caráter de Fénelon, não haverá motivo para duvidar- se de sua identidade. Do contrário, teríamos de supor que um Espírito que só prega o bem pode conscientemente empregar a mentira, sem nenhuma utilidade. A experiência nos ensina que os Espíritos do mesmo grau, do mesmo caráter e animados dos mesmos sentimentos, se reúnem em grupos e em famílias. Ora, o número dos Espíritos é incalculável e estamos longe de conhecê-los a todos; a maioria deles não têm nomes para nós. Um Espírito da categoria de Fénelon pode, portanto, vir em seu lugar, às vezes mesmo com seu nome, porque é idêntico a ele e pode substituí-lo e porque necessitamos de um nome para fixar as nossas idéias. Mas que importa, na verdade, que um Espírito seja realmente o de Fénelon? Desde que só diga boas coisas e não fale senão como faria o próprio Fénelon, é um bom Espírito; o nome sob o qual se apresenta é indiferente e nada mais é, freqüentemente, do que um meio para a fixação de nossas idéias. Não se verificaria o mesmo nas evocações íntimas; pois nestas, como já dissemos, a identidade pode ser estabelecida por meio de provas que são, de alguma forma, evidentes.

Por fim, é certo que a substituição dos Espíritos pode ocasionar uma porção de enganos, resultar em erros e, muitas vezes, em mistificações. Esta é uma das dificuldades do Espiritismo prático. Mas jamais dissemos que esta Ciência seja fácil nem que se possa aprendê-la brincando, como também não se dá com qualquer outra Ciência. Nunca será demais repetir que ela exige estudo constante e quase sempre bastante prolongado. Não se podendo provocar os fatos, é necessário esperar que eles se apresentem por si mesmos, e freqüentemente eles nos são trazidos pelas circunstâncias em que menos pensávamos. Para o observador atento e paciente, os fatos se tornam abundantes, porque ele descobre milhares de nuanças características que lhe parecem como raios de luz. O mesmo se dá com referência às ciências comuns; enquanto o homem superficial só vê numa flor a sua forma elegante, o sábio descobre verdadeiras maravilhas para o seu pensamento.

Esse é um trecho do Livro dos Espíritos, primeiro Livro da Codificação Espírita feita por Allan Kardec, que estará sendo postado aos poucos no Blog Agenda Esotérica.

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